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Leila Moura

sexta-feira, 6 de março de 2015

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA E ESCRITA EM BRAILLE NA VIDA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL


A IMPORTÂNCIA DA LEITURA E ESCRITA EM BRAILLE NA VIDA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Francy Barroso Belém1 
Aristonildo C. Araújo Nascimento2 

Resumo

O Braille é um sistema de leitura e escrita, voltado para pessoas cegas e de baixa-visão. Este sistema utiliza-se da sensibilidade tátil, percepção e demais sentidos para que a pessoa possa utilizá-lo. A leitura e escrita em Braille quando são bem trabalhadas, orientadas e estimuladas pelo professor, através de um material didático adaptado, possibilitam aos educandos cegos, uma ampliação de conhecimentos dos mais simples aos mais complexos. A ausência do Braille dificulta a acessibilidade da pessoa cega ao conhecimento, informação e socialização. Estas dificuldades podem estar sinalizadas pela escassez de um material didático adaptado, capacitação insuficiente de profissionais e falta de políticas que viabilizem o acesso ao conhecimento destas pessoas. O objetivo deste artigo é destacar a importância da leitura e escrita em Braille na vida da pessoa com deficiência visual, bem como suas reais dificuldades apresentadas em seu proc
 esso ensino-aprendizagem. Este artigo foi embasado em literatura bibliográfica acerca da temática, como parte do projeto de pesquisa a ser desenvolvido no curso de Mestrado em Educação do PPGE-Ufam. A relevância se dá pela importância de mais conhecimentos aos profissionais e comunidade interessada sobre o Braille e para a vida das pessoas deficientes visuais a fim de promoção da inclusão social e educacional.

Palavras-Chave: Leitura e Escrita em Braille; Deficiência Visual; Conhecimento.



Introdução
      
      Hoje estamos diante de uma profusão de teorias sobre inclusão. Diante dessa diversidade, podemos enfatizar a inclusão de pessoas com deficiência visual na rede regular de ensino e o apoio educacional especializado, que visa o atendimento específico dessas pessoas. Dentre esses alunados específicos, o educando com deficiência visual em especial tem a seu alcance ferramentas que podem auxiliar a construir seu aprendizado. 
      A nova fase da educação que tem gerado debates e inúmeras discussões quanto à aceitação por parte dos profissionais da escola, de formação e capacitação de professores, recursos materiais exigidos, atendimento especializado e o mais importante, a aceitação por parte da escola na inclusão destes alunos, situação que não está sendo fácil para o deficiente, principalmente do aluno cego que não tem disponibilizado recursos como os livros em Braille, essencial para seu aprendizado e sua inserção a informação.
      Observando as questões sobre leitura e escrita Braille para o deficiente visual, revendo as dificuldades encontradas e destacadas por alunos e alunas, professores e familiares, resolvemos pesquisar e analisar este tema, sua origem, falta da sua aquisição na vida do cego. Portanto, o artigo tem o objetivo de destacar a importância da leitura e escrita Braille e abordar as reais dificuldades enfrentadas no processo ensino-aprendizagem para o deficiente visual.
      Utilizaremos no decorrer da pesquisa, além da pesquisa bibliográfica, questionário e entrevista semi-estruturada por tratar-se de uma pesquisa de mestrado em andamento. Para Flick (2007), "a vantagem desse método é que o uso consistente de um guia da entrevista aumenta a comparabilidade dos dados, e sua estruturação é intensificada como resultado das questões do guia". (p. 107)
      Esperamos com esta pesquisa poder contribuir com esclarecimentos sobre os recursos que o Braille pode oferecer à pessoa com deficiência visual, profissionais da educação e sociedade vidente quanto a sua inserção, respeitando suas especificidades e promoção no mundo da informação, trabalho e cidadania.

O Histórico do Braille
       
       A comunicação e as informações na sociedade constituem-se de imagens e apelos visuais complexos, exigindo que o indivíduo esteja preparado para absorvê-la. No campo educacional, os conteúdos escolares permanecem no privilegio pela visualização em todas as áreas de conhecimento, que permeado de símbolos gráficos, imagens, letras e números estabelecem os caminhos para a aprendizagem. 
       Hoje é comum falar sobre as deficiências e a inclusão. Da acessibilidade, da aceitação e do não preconceito. No entanto, verificamos no dia-a-dia, conceitos errados, preconceitos, gestos, atitudes que desconhecem as potencialidades humanas.
       O Brasil vem criando políticas que viabilizem o apoio educacional destas pessoas, no entanto, até o momento, irrisórias providências têm sido tomadas. Porém, existem recursos que podem promover a aprendizagem da pessoa com deficiência e, no caso, da pessoa cega, esses recursos promovem sua inserção na sociedade, ajudam em seu aprendizado e ascensão social.
        Neste contexto, Sá (2006, p. 12) destaca:
       
Desta forma, será possível criar, descobrir e reinventar estratégias e atividades pedagógicas condizentes com as necessidades gerais e específicas de todos e de cada um dos alunos. Neste sentido, explicitamos alguns dos principais aspectos, características e peculiaridades em relação aos alunos cegos e com baixa visão com o objetivo de apontar caminhos, referências e pistas aos educadores tendo em vista a inclusão escolar desse alunado.



      A história da deficiência visual na humanidade está repleta de exclusões. Os conceitos estão evoluindo lentamente e as concepções sofrem transformações sociais em algumas áreas, assim como os estudos da importância do sistema Braille para os alunos com deficiência visual.
      Mariano (2008, p. 1) destaca abaixo os principais momentos da história do Braille. 
      No século XVIII, surge em Paris a primeira escola para cegos. Nela Hauy exercita sua invenção - Um sistema de leitura em alto relevo com letras em caracteres comuns.
       No século XIX, proliferaram na Europa e nos Estados Unidos escolas com a mesma proposta educacional. O novo sistema com caracteres e relevo para escrita e leitura de cegos é desenvolvido por Louis Braille e tomado público em 1825 - o Sistema Braille. Assim, o processo de ensino aprendizagem das pessoas cegas deslancha, possibilitam-lhes maior participação social.
      O instituto Benjamim Constant foi o primeiro educandário para cegos na América Latina e é a única Instituição Federal de ensino destinada a promover a educação das pessoas cegas e de baixa visão no Brasil. 
      Além de ter criado a primeira Imprensa Braille do país (1926), tem-se dedicado a capacitação de recursos humanos, a publicações científicas e a inserção de pessoas deficientes visuais no mercado de trabalho.
      Um grande marco na história da educação de pessoas cegas foi à criação, em 1946, da Fundação para o Livro do Cego no Brasil, hoje denominada Fundação Dorina Nowill para cegos que, com o objetivo original de divulgar livros do Sistema Braille, alargou sua área de atuação, apresentando-se como pioneira, na defesa do ensino integrado.
      O Braille é considerado como um sistema de leitura e escrita voltado para o atendimento às pessoas com deficiência visual. Muita gente já ouviu falar sobre o Sistema "Braille" para os cegos. No entanto, poucas pessoas sabem porque ele é chamado Braille ou quem era Louis Braille. 
      Para Mariano (p. 4) o Braille foi criado por um jovem francês chamado Luis Braille em 1825. Devido a um acidente ocasionado aos três anos de idade, quando ajudava o pai em uma oficina de couro. 
      Segundo o autor (p. 1).
      
Louis vivia ele em Coupvray uma pequena cidade a 40 Km de Paris-França. O pai de Louis tinha uma loja, onde se fabricavam artigos de couro. Um dia em que brincava na referida loja, tendo em uma das mãos uma sovela, instrumento cortante, caiu, enterrando a ponta do instrumento em um dos olhos. Mais tarde, contudo, tornou-se cego dos dois olhos. Embora tivesse apenas sete ou oito anos, já era obrigado a andar com uma bengala. O povo de sua cidadezinha se apiedava, quando o via tão pequeno completamente cego, seguindo seu caminho pelas ruas com uma bengala, a fim de encontrar sua direção.  

Poucos anos depois Louis entrou para uma escola para cegos em Paris, Lá aprendeu a ler, isto é, aprendeu a reconhecer as vinte e seis letras, sentindo-as com os dedos. Mas as letras tinham muitas polegadas (cerca de 20 cm de largura e altura). Este era naturalmente um sistema muito primitivo de ler. 

      
       Sá (p. 14) coloca que Louis Braille, em 1825, na França, criou o sistema Braille conhecido universalmente como código ou meio de leitura e escrita das pessoas cegas. Tem como base a combinação de 63 pontos que representam as letras do alfabeto, os números e outros símbolos gráficos. A combinação dos pontos é obtida pela disposição de seis pontos básicos, organizados espacialmente em duas colunas verticais com três pontos à direita e três à esquerda de uma cela básica denominada cela Braille e é realizada por meio de uma reglete e punção ou de uma máquina de escrever Braille.
       
       
O processo de alfabetização através da leitura e escrita Braille

      A exclusão social e educacional vem no percurso histórico, desconsiderando a pessoa com deficiência. Vamos, portanto, analisar a situação. A partir de 1948, a ONU realizou uma convenção com a participação de seus países membros e o resultado foi a Declaração dos Direitos Humanos em que o Brasil como país membro, comprometeu-se a mudar sua política educacional e iniciar um processo de inclusão das pessoas com deficiência.
      Os anos se passaram, veio a Constituição Federal de 1988, Convenção da Guatemala em 1991, a Declaração de Salamanca em 1994, a nova LDB de 1996 e as legislações atuais. Ora, desde a Declaração dos Direitos Humanos, já se passaram 61 anos e pouca coisa mudou.
      As pessoas cegas, surdas, mentais e as demais pessoas deficientes continuam segregadas, os recursos limitados e parcos investimentos. Professores mal remunerados, descompromissados, cansados e raivosos. Não se sentem em condição de ter em suas salas de aula 45 alunos considerados normais, mas um ou dois deficientes, um cego e um surdo como exemplo. Isto sem incluir o deficiente mental severo, o altista, o paralisado cerebral.
      Como alfabetizar uma pessoa cega, sem recursos, sem interesse, sem cobranças, pois alfabetizar uma pessoa cega exige-se ferramentas complementares fundamentais como o Braille.  
      Neste contexto, um programa de alfabetização que, realmente esteja compromissado com as necessidades de um aluno com deficiência visual precisa primar por objetivos e conteúdos que possam levar este aluno a um desempenho que os possibilite exercer sua cidadania e que as construa nas dentro das atividades de ler e escrever socialmente.
      Beyer (2006, p. 9) destaca que, neste sentido a deficiência não é uma metonímia do ser, um jogo falacioso de lógico e, o todo não é e não deve ser definida por uma das suas partes. Não há pessoa deficiente, todas são iguais, cujos atributos são: não ouvir, não ver, não andar e assim por diante.
      O deficiente visual desde seu nascimento até a etapa escolar apresenta as limitações inerentes a sua condição e, portanto, pode apresentar atraso em seu desenvolvimento requerendo por isso, uma atenção específica.
      Suas descobertas e construções mentais irão depender da forma como será estimulado, levado a conhecer o mundo que o rodeia. Eis o desafio do alfabetizador: estimular, orientar, conduzir para autonomia, dar oportunidades, favorecendo o crescimento global da criança.
      Porém, a inclusão das pessoas cegas tem trazido momentos de angústia para alfabetizandos e alfabetizadores. 
      Sá (2006, p. 14), destaca que está sendo um período de desafios e de descobertas imprevisíveis, tanto nos aspectos negativos quanto nos positivos. Por tais razões, é preciso que os professores que desejam dedicar-se a esse campo educacional tenham o preparo que se exige, para que os resultados obtidos sejam, na realidade, os mais proveitosos.
      Independentemente da postura pedagógica adotada, o alfabetizador de crianças cegas deve compreender que elas podem necessitar de mais tempo para adquirir habilidades sensórias- motoras simbólicas e pré-operatórias. 
      Dias (2008, p. 1 apud Almeida) sobre o processo de aprendizagem de uma criança portadora de deficiência visual, enfatiza sobre a importância de procedimentos e recursos especializados. Para que seu crescimento global se efetive, verdadeiramente, faz-se necessário que lhe sejam oferecidas muitas oportunidades de experiências, e inúmeras habilidades devem ser trabalhadas. Isto significa que uma criança cega deve ser educada sob a orientação de vários meios e exercícios de condicionamento. Este enfoque, antigo e superado, deve ser mudado.
       
De maneira inversa a da criança vidente que incorpora, assistematicamente, hábitos de escrita e de leitura desde muito cedo, a criança cega demora muito tempo a entrar no universo do ler e escrever. O Sistema Braille não faz parte do dia-a-dia, como um objeto socialmente estabelecido. Somente os cegos se utilizam dele. As descobertas das propriedades e funções da escrita tornam-se impraticáveis para ela. Dias (2008, p. 6 apud ALMEIDA).

       
      A acessibilidade e cidadania, as atividades escolares e de vida diária das pessoas cegas podem ser facilitadas pelo uso de equipamentos e outros recursos indispensáveis para o desenvolvimento de suas habilidades. 
      Para Sá (2006, p. 16), as máquinas de escrever em Braille, os gravadores, os livros sonoros, os ledores, os computadores com linha Braille ou softwares com síntese de voz, leitores de tela e ampliadores e os auxílios ópticos são alternativas mais recorrentes. A autora enfatiza que o Sistema Braille é um recurso fundamental e complementa a aprendizagem e, portanto, imprescindíveis nas escolas inclusivas e nas salas de recurso que atendem alunos cegos.
       Nesse contexto, a criança cega é um ser inteiro, dona dos seus pensamentos, e construtora, ainda que em condições peculiares, do seu próprio conhecimento. Vê-la como um produto de treinamentos repetitivos conduz a distorções. Portanto, o Braille amplia as probabilidades de sucesso na alfabetização de crianças cegas.
      
trabalho. E-mail: aristonildo@ufam.edu.br

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