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Leila Moura

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Escrita Espelhada

Ana Lúcia Hennemann

Observe a imagem abaixo, percebeu o que aparece na mesma?
xícara  letra espelhada
Óbvio é uma xícara. Os mais detalhistas falariam que a mesma aparece em posições diferenciadas, mas mesmo assim é uma xícara, mesmo estando de cabeça para baixo, com a alça posicionada para direita ou para esquerda.  E foi através desta questão dos objetos que Dehaene (imagem) buscou elementos a cerca da letra espelhada.

Stanislas Dehaene
Conta o pesquisador que seu filho Olivier, por volta de seus 5 anos, iniciou a escrita de seu nome da direita para a esquerda: REIVILO. O pai relata que teve um ímpeto de orgulho, pois imaginou que seu filho fosse capaz de imitar Leonardo da Vinci, mas junto com a euforia veio a ansiedade: - E se o filho estivesse sinalizando indícios de dislexia?
Observe novamente a imagem da xícara colocada anteriormente e tente entender como por exemplo, a letra "q" seria visualizada no cérebro de um indivíduo no início de suas escritas...
Para a aprendizagem da leitura e escrita a criança precisa ultrapassar este estágio do espelhamento e “desaprender” a generalização por simetria, enfim entender que letras como “d” e “b”, são letras diferentes.Também como forma de auxiliar as crianças neste “desaprender da escrita espelho”, atividades tais como a exploração tátil das letras feitas com diversas atividades e materiais:
  • caminhar sobre a letra desenhada com giz no chão;
  • molhar o dedo na água e contornar a letra;
  • manipular letras feitas com lixa, madeira, enfim texturas diferenciadas;
  • pedir para a criança desenhar números e letras no ar, experimentando diferentes dimensões, escrever na parede, no chão;
  • praticar a escrita com os olhos fechados, etc;
  • brincar de saco surpresa: coloca-se as letras dentro de um saco e ela deve através do tato descobrir qual letra é (observação: coloca-se letras feitas de material de diversas texturas coladas em cartolina)
  • alfabeto de gelatina
  • construir letras com diferentes objetos motivadores para as crianças; massa de modelar, argila, e pode-se comprar aquelas forminhas de alfabeto encontradas nos brinquedos de areia para fazer gelatina dentro......qual criança não gostaria de comer uma letra feita de gelatina?
Fontes:
  •  DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a capacidade de ler. Porto Alegre: Penso, 2012.


E foi assim, por curiosidade que iniciou as pesquisas em torno da escrita espelhada:
Primeiras descobertas de Dehaene (2012, p.281).

Está constado que todas as crianças do mundo fazem os mesmos erros. Todas passam pelas mesmas dificuldades em discriminar as letras ou palavras de sua imagem espelho. [...] Trata-se aí de um comportamento estritamente normal, que se manifesta em todas as culturas, inclusas as da China e do Japão.

Ele é observado na idade em que a criança produz seus primeiros escritos. Só o prolongamento desse fenômeno além dos 8 ou 10 anos dá razões para inquietar-se. (grifo meu) Nesta idade, com efeito, os erros de inversão em espelho são claramente mais frequentes nas crianças disléxicas, mesmo se eles tendem de modo igual a desaparecer em seguida.

Contudo o autor se sentiu desafiado a descobrir mais, pois como pode uma criança que mal pode segurar um lápis, exibir sem o menor treinamento, uma habilidade superior a de um adulto? A resposta a seu questionamento foi encontrada em mecanismos antigos herdados de nossa história evolutiva.

Para nossos ancestrais esta poderia ser uma função de sobrevivência, enquanto que a detecção de um animal perigoso, inicialmente visto no lado direito, pode ser rapidamente identificado se apresentados do lado esquerdo num outro processo por este processo de simetria. Ou seja, Dehaene, nos diz com isso que podemos identificar um “tigre” vendo ele de perfil direito, mas a simetria de seu plano corporal também pode ser identificada em nosso cérebro se ele se encontra de perfil esquerdo.

Possuir um sistema nervoso simétrico e conservá-lo no curso da aprendizagem apresenta pois dupla vantagem: - a simetria do plano cerebral permite reconstruir as propriedades dos objetos de modo invariante, independentemente de sua orientação esquerda-direita; - mas ela não impede, no entanto, codificar sua orientação no espaço, e nem responder com ações espaciais adaptadas, aí compreendidas as ações assimétricas. (Dehaene, 2012, p.295)

xícara  letra espelhada

Os circuitos visuais da criança, se são aptos a se reciclar a fim de aprenderem a ler, possuem uma propriedade indesejável para a leitura: eles simetrizam objetos. É a razão porque todas as crianças cometem erros, no início de sua aprendizagem, erros de leitura e de escrita espelho. Para elas, as letras b e d não são senão um e o mesmo objeto sob dois ângulos diferentes. (Dehaene, 2012).

letras espelhadas


Sendo que a distinção entre direita e esquerda começa na via visual dorsal (comanda os gestos no espaço). A criança aprende a traçar os contornos das letras e associa os gestos e orientações diferentes de cada um deles. Aos poucos esta aprendizagem motora se transfere à via visual ventral que reconhece os objetos. Dessa forma a simetria é quebrada, sendo que o leitor competente adquire conhecimentos visuais sobre a escrita normal.



quinta-feira, 7 de abril de 2016

HIPÓTESE DE ESCRITA DE UM ALUNO DI

Testagem de um aluno de 13 anos no primeiro atendimento de 2016 na SR

E.E.E.F. ...

Nome do aluno: 0000           DN.:
Nome da Professora:
Turno:                             Turma                      Ano Letivo: 2016
Profª. AEE:

Informe de atendimento da Sala de Recursos a professora da sala regular

            
Este texto tem como objetivo auxiliar na busca por intervenções que favoreçam um melhor aproveitamento do aluno na sua tarefa de ensinar. O aluno 0000, demonstra capacidade cognitiva de uma aprendizagem com sucesso, se estiver com tarefas adequadas ao nível de desenvolvimento de aquisição da escrita.


NÍVEL SILÁBICO-ALFABÉTICO

A criança silábica, à medida que vai verificando a insuficiência de sua hipótese de associar uma letra para cada sílaba oral, amplia o seu campo de fonetização.

Em vez de fonetizar cada palavra, preocupando-se com as sílabas orais como unidades linguísticas, ela inicia a fonetização de cada sílaba, percebendo normalmente que é constituída de mais de uma letra. A criança vislumbra assim o princípio alfabético da escrita e avança para o nível silábico-alfabético.

Para a criança silábica é impossível ler o que as pessoas escrevem convencionalmente. A criança acha que sempre sobram letras na escrita convencional, ou seja, tem mais letras nas palavras do que os sons emitidos na fala.
A criança silábica entra em conflito porque sabe que, nos livros e nas escritas de pessoas alfabetizadas, a grafia é correta, e que essas pessoas têm a autoridade de saber ler e escrever.

É muito importante para a criança que avança para o nível silábico-alfabético conhecer a grafia adequada de algumas palavras através da autoridade do contexto cultural que a cerca – ”a dos alfabetizados”.

O confronto entre grafias corretas de palavras e o tipo de escrita silábica (em vias de ser abandonada) produzida pela criança, é fonte de reflexão e ajuda na passagem para o nível silábico-alfabético, porque a criança percebe a necessidade de colocar mais letras do que as que põem no nível silábico.

As crianças neste nível aumentam o número de letras em suas escritas de duas formas:
-Ou voltam a escrever com muitas letras e com quaisquer letras abandonando a hipótese silábica;
-Ou continuam escrevendo silabicamente, acrescentando no final da palavra que escrevem mais letras aleatoriamente, conservando em parte a hipótese do nível silábico, podendo haver conflito entre a escrita silábica e a quantidade mínima de letras.
Tais comportamentos confundem muitos os professores/alfabetizadores, que precisam estar atentos para entender e analisar essas situações.

Este tipo de solução, de aumentar o número de letras é que caracteriza o nível silábico-alfabético, apesar de ser uma solução que resolve apenas uma parte do problema.
A criança escreve então, nas palavras, algumas sílabas só com uma letra e outras sílabas com duas letras. Mas ainda vai persistir o problema da decodificação, de como ler o que escreveu.

CARACTERÍSTICAS DA ESCRITA E DA LEITURA

Nível conceitual – silábico-alfabético

-Conflito entre a hipótese silábica e a exi­gência de quantidade mínima de caracteres.
-Dificuldades da criança em coordenar as hipóteses que foi elaborando no curso dessa evolução, assim como as informações que o meio ofereceu.
-A criança descobre que a sílaba não pode ser considerada como unidade, mas que ela é composta de elementos menores – as letras. Enfrenta novos problemas:

No eixo quantitativo, percebe que uma letra apenas não pode ser considerada síla­ba porque existem sílabas com mais de uma letra. Assim, sem nenhum critério, vai aumen­tando o número de letras por sílabas.

No eixo quantitativo, a criança percebe que a identidade do som não garante a identidade das letras, nem a identidade das letras, a do som. Existem letras com a mes­ma grafia e vários sons. Descobre que exis­tem sons iguais com grafias diferentes e que, na maioria das vezes, não se fala o que se escreve e não se escreve o que se fala.
-A criança enfrentará novos conflitos ao vivenciar os problemas ortográficos que se ini­ciam no nível silábico-alfabético e se estenderão por todo o processo acadêmico.
-A criança procura acrescentar letras à escrita da fase anterior (silábica).
-Grafa algumas sílabas completas e outras incompletas (com uma só letra por sílaba). Usa as hipóteses dos níveis silábico e silábico-alfabético ao mesmo tempo.
-A ausência de letras em sua escrita não pode ser considerada pelo professor como omissão ou retrocesso. Porque, na verdade, é uma progressão nos níveis conceituais.
-A criança silábico-alfabética inicia a leitura independente de textos, palavras, dos livrinhos de literatura, entre outros portadores de textos. Algumas crianças utilizam-se da soletração para ler, unindo consoante e vogal. Outras já perce­bem as sílabas simples na sua totalidade.
-A criança já pode iniciar o trabalho na escrita e na leitura com os diferentes tipos e modalidades de letras.
-As dificuldades que as crianças apresen­tam, na escrita e na leitura, são quanto às síla­bas complexas. Neste nível, é importante um trabalho de construção dessas sílabas para que as crianças possam alcançar, gradativamente, a possibilidade de escrevê-las e lê-las nos tex­tos dos livros e em outros materiais.
-Na leitura, a criança faz predições, antecipa­ções do significado das palavras. As predições e inferências são estratégias básicas de leitura.
-As crianças esbarram na leitura e escrita de palavras que são iniciadas por vogais. Como saída, elas podem fazer a inversão das letras tanto na leitura como na escrita.

Exemplo:
-amora – leem e escrevem maora.
-então – leem e escrevem netão.
-esporte – leem e escrevem seporte.

PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS
O TRABALHO COM LETRAS, PALAVRAS, SÍLABAS E TEXTOS

Em todo processo de alfabetização, deve-se cuidar para que todas as atividades de leitura e escrita propostas aos alunos apare­çam contextualizadas e associadas a uma significação, isto é, ligadas a aspectos da vida das crianças ou as atividades que realizam em sala de aula ou em casa.

Os jogos, as brincadeiras, as rodas de con­versa, a troca de ideias entre os alunos, e mesmo um pouco de competição entre eles, tornam a aprendizagem um processo de construção do conhecimento por eles mesmos.

É muito importante que o professor/alfa­betizador saiba que tipos de atividades ou situações pedagógicas deverão ser desenvol­vidas para que as crianças avancem nos ní­veis conceituais da escrita e da leitura e nos seus estágios de desenvolvimento cognitivo.

Sugestões de atividades
-jogos e atividades variadas com alfa­beto móvel e silabas móveis;
-caça-palavras;
-cruzadinhas;
-jogos de memória, bingo, dominós diversos;
-leitura e interpretação oral de diferen­tes textos, poesias, músicas, parlendas, textos do aluno e do professor, notícias, reportagens, bulas de remédio etc.;
-produção de textos coletivos;
-montagem e escrita de pequenas estru­turas linguísticas;
– adivinhações, trava-línguas, quadrinhas, anedotas;
-jornal falado;
– hora de surpresa;
-planejamento e avaliação do dia;
-relatório oral e escrito de experiências vivenciadas;
-histórias mudas;
-escrita de cartas, bilhetes, listas, anún­cios, propagandas;
-análise e síntese de palavras significativas;
-escritas espontâneas, autoditado; e leitura de livrinhos de literatura, jornais e revistas (em grupo ou individual);
-classificação e seriação de palavras;
– jogos e atividades orais que permitam o aluno brincar e recriar com a lingua­gem (rimas, acrósticos, entre outros); trabalhos manuais – recortes, dobraduras, pinturas, encaixes – propiciam às crianças novas formas de expressão e o uso, em sua linguagem, de novas palavras;
-oficina de histórias reconta, reescrita;
-construção de relatos e descrições;
-diálogos, entrevistas e reportagens sur­gidos nas situações cotidianas; e transcrição de receitas, brincadeiras, piadas; e recorte de figuras ou palavras para mon­tagem de álbuns ou dicionários;
-recontar vídeos, excursões, experiências; e reestruturar frases de poesias, parlendas ou músicas que os alunos já sabem de cor; e localizar palavras num texto, copiá-las separando suas sílabas num diagrama.

São inúmeras as possibilidades de traba­lhar a linguagem oral e escrita no nível silá­bico-alfabético, pois, nesse nível, as crian­ças apresentam um desenvolvimento acele­rado, já iniciando a leitura e a escrita de for­ma mais independente.

A criatividade do professor na seleção e ela­boração das atividades fará com que as crian­ças assimilem, gradativamente, a palavra es­crita e falada de forma prazerosa e natural.
O professor, durante as atividades propos­tas, observa, acompanha, avalia e registra o que as crianças dizem, explicam e pergun­tam entre si.


Professora da SR             Leila M. de M. Lopes