Páginas

Educartenasdiferenças

Facebook

Facebook
Leila Moura

segunda-feira, 14 de março de 2011

Reflexões sobre a alfabetização de crianças com deficiência visual

Cada vez mais fica clara e relevante sua função pedagógica de um educador. O mundo exige que o professor deixe de ser simples repassador de conhecimentos aprendidos, refletindo cada vez mais sua prática, impondo uma compreensão exata e profunda do ofício que exerce.

Por isso, sabe-se que não existe uma receita de qual a melhor maneira de alfabetizar ou de ensinar. Mais ainda e principalmente em se tratando de pessoas com deficiência visual, que requer uma metodologia complexa e com muita demanda de atualizações .

Estudos Piagetianos apontam que a função cognitiva de crianças com deficiência visual desenvolve-se de forma mais lenta, comparando-se com o desenvolvimento de crianças videntes. Podemos afirmar que o educador deve primeiro estar consciente da grandeza e da complexidade dessa área. Deve ser um observador severo e ficar atento à trajetória evolutiva do aluno que está em suas mãos, mostrando-se um estudioso permanente da área educacional em que atua e acredita.

Antes de qualquer coisa é preciso salientar que o professor alfabetizador deve ter uma formação diversificada e sólida para que possa compreender os mecanismos desse, trabalho. Embora saibamos que muito pouco se tem feito a esse respeito, o da qualificação profissional, muitos profissionais procuram por meios diferentes formas de se capacitarem, bem como algumas instituições têm feito parcerias com ONGs e outros tipos de instituições para um atendimento mais qualificado à esse educador tão especial.

O trabalho com esse tipo de alfabetizando requer do professor uma percepção mais sensível do processo evolutivo em que ele está. Deve lembrar que muitas vezes a criança chega em suas mãos em estado bruto e que está a espera de um trabalho complexo para mostrar o seu potencial. Deve procurar desacomodar o alfabetizando fazendo que o mesmo procure uma nova base em que se firmar , se reestruturar e construir um novo processo de acomodação (Piaget).

Mesmo que não haja um manual de como agir num processo de alfabetização, seja de cegos ou videntes, há, isso sim, alguns elementos que podem auxiliar nessa ação e que por muitas vezes se fazem essenciais na construção da leitura e da escrita.

No entanto o educador deve contar com a aplicação de estratégias ou técnicas específicas para a estimulação visual, orientação e mobilidade, bem como para leitura, escrita e cálculos com materiais específicos e adaptados às limitações dessa clientela.

A criança deficiente visual, sobretudo, deverá contar com uma intervenção precoce iniciada o mais cedo possível, seja em casa ou na escola.(Martin & Bueno – Necessidades Educativas Especiais).

Inicialmente a construção da alfabetização que esse alfabetizando ira passar exigirá uma estimulação visual onde “aprenderá a ver” a partir de diferentes tarefas cognitivas e sensoriais, tais como;

• Tomar consciência de seus diferentes sentidos,

• Preparação para formas,

• Discriminação e reconhecimento de diferentes relevos,

• Memória e organização “visual”.

A criança deficiente visual em processo de alfabetização necessita experiências físicas diretas com objetos que a rodeia, principalmente com os objetos de ‘escrita em branco’: o punção, a reglete, máquina de escrever, textos em relevo, ábacos, símbolos da escrita em formas táteis (confeccionadas a partir de diferentes materiais).

Infelizmente a grande maioria das crianças cegas só tomam contato com a escrita e a leitura no período escolar. Esse impedimento sabe-se, pode trazer prejuízos e atrasos no processo de alfabetização.

A aprendizagem das técnicas de leitura e escrita no sistema Braille, depende do desenvolvimento simbólico, conceitual, psicomotor e emocional da criança. Essa evolução satisfatória nem sempre se dá de forma espontânea para a criança cega. Daí a necessidade de prestar especial atenção às habilidades e necessidades do aluno cego antes de decidir o momento de ensinar o ensino da simbologia.

Alguns itens e fatores que interferem na aprendizagem da leitura e da escrita Braille:

- organização espaço-temporal;

- interiorização do esquema corporal, como a lateralidade e demais conceitos;

- independência funcional dos membros superiores;

- destreza manual;

- coordenação bi manual;

- independência digital;

- desenvolvimento da sensibilidade tátil;

- vocabulário adequado a idade;

- pronúncia correta (diferenciação de fonemas similares);

- compreensão verbal;

- descriminação auditiva;

- motivação ante a aprendizagem;

- nível geral de maturação.

Quanto ao método utilizado para alfabetizar dadas as particularidades do ensino do sistema Braille creio que o professor pode fazer sua opção, conforme o estilo “perceptivo do aluno”. Levando em consideração os fatores mencionados anteriormente, entre outros.

O método fonético ou sintético tem por objetivo básico ensinar ao aluno o código ao quais os sons são convertidos em letras ou grafemas ou vice-versa, separando inicialmente a leitura e o significado. Decifrar o sistema Braille é uma decodificação de natureza perceptivo-tátil e não garante aprendizagem conceitual e interpretação necessária ao processo de leitura.

Já o método silábico ou alfabético, as sílabas são combinadas para formar palavras. Em geral, quando se ensina por esse método, inicia-se por um treino auditivo, por meio do qual o aluno é levado a perceber que as palavras são formadas por sílabas ou por grupos consonantais. A partir daí o aluno assimila a forma gráfica da sílaba a qual atribui o devido som. Nesse método apresenta-se inicialmente a família silábica, em seguida, palavras, frases e textos.

Para ambos os métodos deve-se propor conteúdos significativos adequados à idade, visto que a leitura, como instrumento de comunicação e de informação, será mais tarde estimulante e motivadora por si mesma.

Durante o período de alfabetização, o aluno focaliza mais sua atenção na interpretação dos significados e nos aspectos formais da mensagem escrita. Por isso, durante essa primeira etapa as palavras e as frases que se apresentam têm de ser curtas e carregadas de um conteúdo emocional que suponha um reforço imediato ao esforço realizado. As mensagens devem apresentar-se com palavras que já tenham sido trabalhadas oralmente pelo aluno e com estruturas linguísticas familiares para ele.

Em relação à sequência de apresentação das letras, devem-se levar em consideração as dificuldades específicas do sistema Braille, a semelhança de símbolos, a reversibilidade, assimetria, dificuldades de percepção de cada fonema.

Alguns alunos podem mesmo não aprender a ler e escrever. Isso é possível nos casos de alunos que possuem deficiências associadas a DV. Outros podem adquirir com mais lentidão a habilidade de leitura (que será desenvolvida com a prática) e escrita.

Educar uma criança cega não é uma missão fácil. O profissional que pretende entrar neste campo de ensino precisará saber que a criança cega ou baixa visão, é um ser que se desenvolve e constrói o que aprende. Mas, ela apresenta necessidades específicas que reclamam um atendimento especializado e basicamente dirigido a essas especialidades. Seu crescimento efetivo dependerá exclusivamente das oportunidades que lhe forem dadas, da forma pela qual a sociedade a vê, da maneira como ela própria se aceita. E especificamente o sucesso de sua aprendizagem depende muito do papel que ocupa em seu núcleo familiar. O seu espaço de aprender é semelhante ao de uma criança vidente.

Portanto, não há uma receita pronta e infalível para educar uma criança cega. O professor tem de conhecer o aluno que tem diante de si o sobre o qual recai sua atenção a ação pedagógica. No preparo e na coerência da prática docente podem-se encontrar soluções para grandes problemas.

Os recursos que são indispensáveis no processo ensino-aprendizagem do aluno cego ou de baixa visão, são os seguintes: regletes, punção, células Braille, sorobã, máquina de escrever em Braille, material impresso em Braille, gravador, bengala, bola com guizo, tronco humano desmontável, lupas, mapas em relevo,... além de outros materiais que são os mesmos utilizados com crianças videntes, só que adaptados.

Precisamente a linguagem braille e a comunicação com os videntes se constituem o meio fundamental de compensação do cego. Deixado a sua própria sorte, encerrado no âmbito de sua própria experiência, excluído da experiência social, o cego se desenvolve como um ser totalmente peculiar profundamente distinto do homem considerado normal e sem adaptação alguma da vida e do mundo dos videntes. Supõe-se que no caso de uma comunicação exclusiva entre cegos, sem intervenção nenhuma dos videntes, poderia nascer uma categoria especial de pessoas.



Nenhum comentário:

Postar um comentário